Topetes, robôs e soul musicA cantora Janelle Monaé (Divulgação)
"Janelle Monáe fará apresentação em Florianópolis, RJ, Recife e SP"
Já há algum tempo, o disco conceitual é espécie em extinção no mundo pop. Culpa da superdosagem de informação nos tempos .com, do consequente déficit de atenção juvenil e da viabilidade de singles e EPs em meio a todo esse caos.
No entanto, 2010 viu boas exceções à regra. Dois dos discos que foram unanimidade entre críticos nacionais e internacionais no ano passado são costurados por narrativas musicais e temáticas. The Suburbs, do Arcade Fire, dessecou com canções pungentes a angústia e o tédio dos subúrbios norte-americanos. The Archandroid, que lançou a nova sensação da black music Janelle Monáe, buscou referências em Fritz Lang e no afro-futurismo de Sun Ra e Parliament Funkadelic para tecer uma narrativa de ficção científica.
Janelle vem ao Brasil esta semana para o Summer Soul Festival, que passa por quatro cidades do País e tem Amy Winehouse como atração principal. Seu disco passeia por uma miscelânea de gêneros - do funk soul, ao rock, ao punk, ao folk - para contar a história de Cindi Mayweather, uma androide que se apaixona por um ser humano e, por consequência, tem de fugir da polícia de um sistema parecido com o da ditadura de Big Brother, em 1984, de George Orwell. A dificuldade em classificá-lo, se tratando de um disco tão sólido, é o que chamou a atenção da crítica: o que seria um pot-pourri ganhou forma e sustância com a história e a estética que acompanham. Lembra Metrópolis, de Lang, e a música coproduzida pelo brilhante rapper Big Boi, do duo Outkast, é calcada no soul refinado de Michael Jackson, Quincy Jones e Stevie Wonder. Nos clipes que atraíram atenção ao disco, de Cold War e Tightrope, Janelle dança e atua com destreza, numa confluência de talentos que lembram os velhos mestres do show biz.