quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Secas despertam preocupação sobre o futuro da Amazônia

Duas secas incomumente severas castigaram a Amazônia nos últimos anos, despertando a preocupação dos cientistas sobre o futuro da floresta tropical como grande absorvedora de carbono, destacou um estudo realizado por especialistas brasileiros e britânicos e publicado nesta quinta-feira na revista científica americana Science.

A seca registrada em 2005 na região foi considerada um evento raro, do tipo que ocorre uma vez a cada 100 anos, mas àquela seguiu-se outra em 2010, que pode ter sido ainda pior, alertaram os especialistas.

Como as secas mataram muitas árvores, os cientistas preveem que no futuro a floresta amazônica não conseguirá absorver tanto dióxido de carbono (CO2) da atmosfera como costumava fazer, neutralizando o potencial de um importante instrumento no combate às mudanças climáticas.

Pior ainda, as árvores em decomposição podem liberar na atmosfera o correspondente a cinco bilhões de toneladas de CO2 nos próximos anos, quase tanto quanto as emissões dos Estados Unidos, derivadas da queima de combustíveis fósseis em 2009, que foram de 5,4 bilhões de toneladas.

"A ocorrência de dois eventos desta magnitude em um intervalo tão próximo é extremamente incomum, mas infelizmente é consistente com os modelos climáticos que projetam um futuro difícil para a Amazônia", disse o chefe dos estudos, Simon Lewis, da Universidade de Leeds, na Grã-Bretanha.

Com base no impacto da seca de 2005 na morte das árvores, os cientistas previram no estudo que "as florestas da Amazônia não absorverão o usual 1,5 bilhão de toneladas de CO2 da atmosfera tanto em 2010 quanto em 2011".

Além disso, "cinco bilhões de toneladas de CO2 adicionais serão liberadas na atmosfera nos próximos anos uma vez que as árvores mortas na nova seca comecem a apodrecer".

No entanto, o brasileiro Paulo Brando, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), coautor dos estudos, afirmou que são necessárias mais pesquisas para determinar quantas árvores morreram e qual será o impacto destas mortes.

"Nossos resultados devem ser vistos como uma estimativa inicial. As estimativas de emissões não incluem aquelas provocadas pelos incêndios florestais, que se espalham por áreas extensas da Amazônia em anos quentes e secos. Estes incêndios liberam grandes quantidades de carbono na atmosfera", afirmou.

"Pode ser que muitas árvores suscetíveis a secas tenham morrido em 2005, o que reduziria o número daquelas mortas no ano passado", argumentou Brando.

"Por outro lado, a primeira seca pode ter enfraquecido um grande número de árvores, aumentando desta forma a quantidade daquelas mortas na seca de 2010", continuou.

Segundo Lewis, a preocupação principal é que tais eventos possam gerar um círculo vicioso.

"Se as emissões de gases causadores de efeito estufa contribuem com as secas na Amazônia, que por sua vez fazem com que as florestas liberem carbono, as consequências seriam extremamente preocupantes", afirmou.

"Duas secas incomuns e extremas ocorridas no prazo de uma década podem desencadear a liberação maciça de carbono absorvido pelas florestas intactas da Amazônia neste período", acrescentou.

"Se eventos como este acontecerem com mais frequência, a floresta amazônica pode chegar ao ponto de inverter sua condição de valioso absorvedor de carbono e auxiliar no combate às mudanças climáticas para a de fonte importante de emissão de gases estufa, com potencial para acelerar o aquecimento global", concluiu.

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