sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Eleições podem deslocar eixo da oposição ao Planalto para Minas, dizem analistas

Com 11% dos eleitores do país, MG será decisivo em próximo pleito
O eixo da oposição ao Planalto pode deixar o Estado de São Paulo caso as pesquisas eleitorais se confirmem, com a eleição de Dilma Rousseff (PT) à Presidência e de Antônio Anastasia (PSDB) ao governo de Minas Gerais, segundo analistas políticos ouvidos pela BBC Brasil.
"(Esses resultados) significariam a derrota do projeto do PSDB paulista, tido como mais aguerrido e mais à direita, e dariam mais ênfase a um projeto de oposição moderada, representado por Aécio Neves (PSDB-MG)", diz a cientista política Heucimara Telles, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Para Ricardo Guedes, diretor do instituto de pesquisas Sensus, o cenário consolidaria um processo em curso desde 2002 no país, que aponta para uma aproximação entre esquerda e direita.
"Os extremos vêm sendo repelidos do processo eleitoral", diz Guedes, que compara essa transformação à que resultou na hegemonia dos Partidos Democrata e Republicano nos Estados Unidos, ou de Trabalhistas e Conservadores na Grã-Bretanha.
Segundo Guedes, essa possibilidade, aliada ao fato de Minas Gerais ter o segundo maior colégio eleitoral do país, com 11% do total de votantes, e de tradicionalmente refletir os resultados eleitorais nacionais, torna o Estado decisivo para o próximo pleito.
Aliança PT-PMDB
Governada há oito anos por Aécio, que, após abrir mão da disputa com José Serra pela candidatura do PSDB à Presidência, decidiu concorrer ao Senado, Minas Gerais é o mais populoso entre os Estados onde o PT abriu mão de ter candidatura própria ao governo.
Em nome da aliança federal com o PDMB, a sigla decidiu apoiar a candidatura do peemedebista e ex-ministro das Comunicações Hélio Costa, indicando o petista e também ex-ministro Patrus Ananias a vice da chapa.
Se Antônio Anastasia vencer, MG pode ser novo 'polo' da oposição
Costa chegou a liderar com ampla vantagem as pesquisas de intenção de voto, mas nas últimas semanas foi ultrapassado por Anastasia, vice-governador na última gestão de Aécio.
Segundo os últimos dados do Datafolha, divulgados na quinta-feira, o tucano seria eleito no primeiro turno com 43% dos votos, contra 36% de Costa.
Ainda de acordo com o instituto, Aécio lidera a disputa pelo Senado com 67% das intenções de voto, contra 43% de Itamar Franco, do PPS, e 34% do petista Fernando Pimentel.
'Dilmasia'
A subida de Anastasia, atribuída à intensa participação de Aécio na sua campanha, não respingou nas intenções de voto a José Serra no Estado.
Ecoando as eleições de 2002 e em 2006, quando mais de 65% dos eleitores mineiros votaram em Lula nos segundos turnos das disputas presidenciais, o Estado hoje dá a Dilma ampla vantagem: 51% das intenções de voto, contra 24% de Serra, segundo o Datafolha.
O desempenho do tucano no Estado governado pelo PSDB é pior do que no país como um todo, onde ele tem 31% contra 52% de Dilma.
A explicação para o fenômeno tem sido creditada ao chamado voto "Dilmasia", em que o eleitor optaria por Anastasia na eleição ao governo estadual e por Dilma na eleição federal.
Ainda que PSDB e PT neguem qualquer acordo nesse sentido, um grupo de 50 prefeitos mineiros assinou neste mês uma carta aberta em defesa do voto casado entre PT e PSDB, e a própria Dilma, em discurso em Belo Horizonte em abril, fez referência ao termo.
Anastasia, por sua vez, disse em sabatina que "o eleitor vai escolher como compor sua chapa como a consciência indicar".
Frankenstein
"Eu acho que o 'Dilmécio' (Dilma + Aécio), o 'Dilmasia', essa série de figuras que aparentemente são Frankensteins, tendo em vista a polarização nacional entre PT e PDSB, não são monstrengos em Minas Gerais", diz a professora Heucimara Telles.
Ela lembra que os dois partidos têm relação muito boa no Estado e até apoiaram conjuntamente o candidato vencedor na última disputa à Prefeitura de Belo Horizonte - Márcio Lacerda, do PSB.
Antes da posse de Lacerda, referindo-se à aliança, Aécio disse que o resultado da votação significava a vitória da "tese da convergência" e dividiu os créditos com o ex-prefeito da cidade Fernando Pimentel, que, ironicamente, hoje disputa com o ex-governador votos pelo Senado. A menos, é claro, que o eleitor opte pelo voto "Pimentécio" - que tem comitê próprio e Lacerda como um dos principais apoiadores.

Nenhum comentário:

Postar um comentário